Negociação travada: trabalhadores da Limpeza Urbana enfrentam resistência patronal

 Negociação travada: trabalhadores da Limpeza Urbana enfrentam resistência patronal

A terceira rodada de negociação da campanha salarial 2025/2026 da Limpeza Urbana, realizada nesta sexta-feira (3), na sede do SELUR, evidenciou o impasse entre as partes. Apesar da relevância dos temas levados à mesa, o encontro terminou sem avanços significativos.

A diretoria do SIEMACO São Paulo, acompanhada de sua assessoria e do STERIIISP (Sindicato dos Motoristas), participou da reunião, que foi transmitida ao vivo para dezenas de trabalhadores reunidos no auditório do SIEMACO-SP. O tom do encontro foi firme. Para os representantes sindicais, a postura do setor patronal demonstra a falta de comprometimento com a valorização de uma categoria que exerce um serviço essencial em condições muitas vezes adversas.

Apesar da resistência das empresas, alguns pontos avançaram. Após insistência dos sindicatos, o SELUR reconheceu a existência do “cachimbo” — prática de desvio de função — e se comprometeu com sua proibição. Também foi acordado o fornecimento de três pares de luvas de proteção a cada 15 dias, medida que atende a uma demanda importante relacionada à segurança no trabalho. Ainda assim, o sindicato reforçou que essas medidas representam apenas o mínimo necessário e não substituem a necessidade de avanços reais na pauta apresentada pela categoria.

As cláusulas sociais seguem como ponto central das negociações. O SIEMACO-SP defende que não se trata de benefícios complementares, mas de direitos que impactam diretamente a vida dos trabalhadores. “Cláusulas sociais são parte da dignidade do trabalhador. Não dá pra aceitar que se fale em valorização ignorando aquilo que impacta a vida real dessas pessoas. Estamos falando de seres humanos, não de peças descartáveis”, afirmou o presidente do SIEMACO-SP, André Santos Filho.

Um dos temas debatidos foi o Auxílio Funeral. O SELUR propôs o reajuste do valor para R$ 2.500,00, mas recusou-se a estender o benefício aos dependentes dos trabalhadores. O sindicato defendeu a ampliação, considerando as responsabilidades familiares dos profissionais e os impactos financeiros que recaem sobre suas famílias em momentos de perda. “Quando um trabalhador morre, ele deixa uma família. O luto, o sofrimento, os custos… tudo isso é real. Fingir que só o titular importa é desumano”, destacou André.

Outro ponto de impasse foi a qualidade da cesta de Natal. O sindicato criticou os produtos oferecidos nos últimos anos, considerados de baixa qualidade e sem padrão mínimo. Houve relatos de alimentos com validade próxima do vencimento e itens sem marca. “O que se entrega hoje é um insulto. O mínimo que se espera é uma cesta digna. Aquilo não representa nenhum reconhecimento, é uma humilhação”, afirmou o presidente do SIEMACO-SP.

“Isso não é proposta, é provocação. Valorização não é discurso vazio. É salário justo, é dignidade garantida.”
(André Santos Filho, presidente do SIEMACO-SP)

Na pauta econômica, a proposta patronal foi mantida em 5,3% de reajuste salarial e 5,8% nos benefícios, percentual inferior à inflação acumulada. O sindicato rejeitou a proposta e reafirmou sua reivindicação de 7% de reajuste linear. Para os representantes dos trabalhadores, o reajuste proposto não atende às necessidades básicas da categoria. “O trabalhador da limpeza urbana sai de casa de madrugada, enfrenta lixo, chuva, risco de contaminação, de atropelamento, e o que oferecem é um reajuste que sequer cobre a inflação? Isso não é proposta, é provocação. Valorização não é discurso vazio. É salário justo, é dignidade garantida”, reforçou.

Diante da falta de avanços concretos, o SIEMACO-SP alertou que a paciência da categoria está chegando ao limite. A próxima rodada de negociação está agendada para o dia 7 de outubro, às 15h, novamente na sede do SELUR.

Por Fabiano Polayna (MTb 48.458/SP); Fotos: Murilo Raggio (MTb: 89.260/SP)