Secretaria da Mulher do Siemaco abraça a causa da trabalhadora Transexual e Travesti

 Secretaria da Mulher do Siemaco abraça a causa da trabalhadora Transexual e Travesti

As diretoras sindicais Márcia Adão e Andrea Ferreira (Ferreirinha), com o apoio da liderança sindical feminina, receberam no Auditório do Siemaco, na terça-feira (14), mulheres trans e travestis para o lançamento do Departamento da Igualdade Social. O objetivo é abrir vagas de emprego nas categorias representadas para trabalhadoras que ainda encontram resistência do mercado formal. O sindicato patronal, Seac-SP (Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação de São Paulo), integra  a ação sindical.

O emprego, entretanto, será precedido da capacitação profissional, garantida pela Central de Cursos do Siemaco, que também disponibilizará os cursos de educação continuada para as mulheres trans e travestis. A Central de Vagas dará o apoio necessário para cadastramento e processo seletivo e o Siemaco em Gestão, coordenado pela diretora Silvana Souza, fará a interface com as empresas.

O projeto que foi construído ao longo dos anos identificou uma lacuna no mercado. As mulheres trans e travestis serão as primeiras a receber assistência, porém a ação sindical visa abranger, no futuro, a comunidade LGBTI+.

Identidade feminina

Abrindo a ação sindical, a artista trans, Kaylie, mostrou a arte e a  beleza de quem sabe o que é, precedendo a fala da madrinha do projeto, a também atriz (Multishow) e influenciadora digital, Fernanda Houston. Fefe contou sua experiência recente, vivida como vítima da violência de gênero, e mostrou a importância da denúncia e o atendimento realizado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). “É importante denunciar, formalizar a agressão sofrida e buscar a Justiça.”

“O segmento da limpeza está nos abrindo as suas portas para sairmos da invisibilidade, para nos fazermos notar. Vamos agarrar esta oportunidade de cabeça erguida”, enfatizou Fernanda, lembrando a importância do registro formal e o amparo da CLT para um futuro previdenciário. “Com o apoio do sindicato seremos aceitase amparadas”, argumentou lembrando das armadilhas do mercado do “Pink Money e das pessoas que só querem lucrar com a causa LGBTI+”.

O professor Willian Santos, da equipe da Central de Cursos, orientou que a educação formal é o fator principal para a entrada no mundo do trabalho. Disse que a equipe está preparada para atender os trabalhadores em toda a sua diversidade e resumiu o serviço oferecido gratuitamente, pelo Siemaco.

O instrutor de treinamento Antonio Carlos da Silva, que atuou 22 anos no segmento do Asseio e Conservação, provou que a limpeza é a porta de entrada para o crescimento profissional. “Comecei como auxiliar de limpeza e evolui na profissão aos cargos de chefia. 

Ressaltando que o agressor “agride para não ser agredido”, contou que, homossexual assumido, venceu a homofobia com trabalho, competência e atitude. “Estamos construindo hoje com o sindicato um espaço de colaboração. O Siemaco está oferecendo uma oportunidade e temos de agarrá-la de cabeça erguida.”

Militante nas causas sociais, a advogada Claudia Patrícia Luna esclareceu que o Siemaco será mais um aliado para a mulher trans e travesti buscar a dignidade conquistar o reconhecimento merecido. Alertou para o tráfico de pessoas, que explora talentos e apaga identidades. “Muitas mulheres trans e travestis são devolvidas ao Brasil sem nome ou história”.

“A luta pela garantia dos direitos da população LGBTI+ é imensa e presente nos órgãos oficiais”, disse a procuradora do Ministério Público do Trabalho em São Paulo e Coordenadora da Coordigualdade, Valdirene Silva de Assis. Ela relatou projetos sinérgicos realizados pelo MPT-SP com bons resultados..

“O sindicato dos trabalhadores e patronal abrem, hoje, um espaço de diálogo num exemplo a ser seguido pelo movimento sindical. É uma conquista de vocês e o primeiro passo de uma longa caminhada”, disse Valdirene convocando à prática da transdignidade através do reconhecimento da personalidade. “A mulher trans é uma mulher como eu e contam com a garantia dos direitos legais”, salientou.

Pela valorização do trabalho da mulher

Responsável pela Secretaria da Mulher, Márcia Adão ressaltou que para as mulheres tudo é mais difícil e para a mulher trans e travestis é mais difícil ainda! “A violência não sai da pauta global e sabemos o quanto as mulheres estão incomodando o universo sexista.”

Lembrando que 60% das trabalhadoras representadas pelo Siemaco SP são mulheres, ela disse que a luta da Secretaria da Mulher remonta há uma década. O novo foco, a empregabilidade da mulher trans e travestis, será um “trabalho de formiguinha”, realizado com vagar, responsabilidade e engajamento.

“Mais uma vez ocupamos a vanguarda do movimento sindical na luta em prol da atividade na limpeza”, disse o presidente do Seac-SP, Rui Monteiro. Ressaltando o sucesso da parceria na promoção da educação dos trabalhadores, através da Central de Cursos. dentr outras açõs sindicais, afirmou que os sindicatos não medem esforços para garantir a eficiência e qualidade do modelo de negócios do Asseio e Conservação a partir da gestão profissional e valorização dos colaboradores.

“O preconceito é inadmissível e muitas vezes ele está dentro das empresas, não apenas na sociedade”. Garantiu que Siemaco e Seac colaboram na apuração das denúncias e trabalharão juntos na promoção do emprego formal para profissionais trans e travestis. Lembrou ainda que o setor de serviços representa 70% do Pib nacional e que apenas 20% das vagas são destinadas para a população LGBTI+.

À frente do Departamento da Igualdade Social, Andrea Ferreira resumiu que o Siemaco oferecerá a qualificação necessária, exigida pelas empresas, que garantirá os requisitos às candidatas Trans e Travestir. Enfatizou a importância do apoio dos Centros de Referência em Cidadania LGBT  e convidou os colegas sindicalistas e a população LGBTI+ a construírem um trabalho conjunto, onde todos aprenderão uns com os outros.

“Como mãe pela diversidade eu agradeço e me incluo neste trabalho”, disse a também diretora do Siemaco, Maria Silva. Testemunhando a apreensão materna ao acompanhar o preconceito que gera a discriminação, pela sociedade excludente, Maria desenvolve um importante trabalho na conscientização sobre o Assédio Moral e Sexual no ambiente de trabalho. Infelizmente, a discriminação de gênero é muito presente.

Dignidade da escolha

A discriminação é constante na vida das mulheres trans e travestis, que somam aos 13 milhões de desempregados brasileiros. Elas têm na rejeição e na história de exclusão o maior desafio, mas na autoestima elevada, alicerçada na escolha da identidade de gênero, o agente motivador.

Niv Mel trabalhou na limpeza no passado, mas a distância geográfica entre o bairro de São Miguel Paulista e a cidade de Arujá aliada à distância social no ambiente predominantemente masculino da metalurgia onde prestava serviços a afastou do trabalho formal. Vivendo de bicos, como sinalizadora numa ciclofaixa da capital paulista, ela quer retornar a trabalhar no Asseio e Conservação.

“Eu preciso aprender a trabalhar com as máquinas, porque quando faço entrevista eu tenho de admitir que não sei fazê-lo. Quero me capacitar com o sindicato e  garantir a minha aposentadoria, através da carteira assinada”, justificou.

“Amei tudo, Seria ótimo trabalhar na limpeza e quero muito uma oportunidade no curso de Auxiliar de Limpeza”. Disse Rafaela Gonçaves. Aos 43 anos, mas aparência de 25, ela sabe que a postura pessoal e profissional farão a diferente na busca por uma vaga de emprego. “Precisamos nos qualificar, mas também aprender como nos portar no ambiente de trabalho. Afinal, uma boa impressão é fundamental quando procuramos um emprego”, concluiu.

Maitê argumentou que as mulheres trans e travestir representam “um novo feminino” e que elas têm de acreditar no próprio potencial. “Nossa luta é todo dia!”, argumentou. Em resposta, Márcia Adão lembrou que todos têm muitas perguntas a fazer e que o diálogo levará a desconstrução de mitos e construção de uma nova sociedade.

A emoção contagiou a todos quando o cantor André Bernardes deu o seu depoimento e e finalizou o encontro com sua performance musical. Todos se despediram com a alegria de celebrar um novo momento, com as oportunidades abertas pelo movimento sindical.

Nòs, do Siemaco SP estamos muito felizes com mais esta ação sindical. Diariamente, a nossa equipe busca problemas nos setores de trabalho e os resolve internamente, com muita negociação. Neste momento, as trabalhadoras trans e travestis, que já integram a nossa atividade, terão um olhar ainda mais dirigido às suas necessidades e anseios profissional. Além, é claro, do apoio que toda trabalhadora tem direito e merece.