Mais de 60 socos: porteiro flagra agressão e salva mulher de morrer nas mãos do namorado

 Mais de 60 socos: porteiro flagra agressão e salva mulher de morrer nas mãos do namorado

Na noite do último sábado (26), em Natal (RN), um caso brutal de violência contra a mulher foi interrompido a tempo graças à ação corajosa e decisiva de um porteiro. Juliana foi espancada covardemente pelo namorado, Igor Cabral, ex-jogador de basquete, dentro do elevador do prédio onde morava. As câmeras de segurança registraram mais de 60 socos desferidos contra a jovem, mesmo após ela cair, ensanguentada, no chão.

O que poderia ter terminado em mais uma tragédia entrou para a lista de histórias que não podem ser ignoradas. O porteiro, atento ao monitor, percebeu a cena de horror e não hesitou: acionou imediatamente a polícia e mobilizou os moradores, que correram para prestar socorro à vítima. Por sua ação rápida, Igor foi preso em flagrante por tentativa de feminicídio e segue detido, mesmo após a audiência de custódia.

Esse episódio escancara duas realidades do Brasil: a urgência no combate à violência contra a mulher e a importância invisibilizada de profissionais da portaria, que muitas vezes são o último elo de segurança em condomínios residenciais. O porteiro, que muitos enxergam apenas como figura de rotina, foi o agente que rompeu o ciclo da omissão e salvou uma vida.

Enquanto isso, os números seguem alarmantes. Em 2024, o Brasil registrou entre 1.450 e 1.492 feminicídios — o maior número desde que o crime foi tipificado em 2015. São quatro mulheres mortas por dia, a maioria dentro de casa, vítimas de companheiros ou ex-companheiros. Mais de 60% das vítimas são mulheres negras, e os casos entre adolescentes cresceram 30% em um ano.

No Rio Grande do Norte, estado onde ocorreu a tentativa de feminicídio, 19 mulheres foram mortas apenas no último ano, e mais de 13 mil medidas protetivas foram solicitadas por vítimas de agressão. Em todo o país, mais de 8 mil novos processos de feminicídio foram registrados no Judiciário, e quase 11 mil casos foram julgados — reflexo da gravidade da crise.

A atitude do porteiro de Natal não foi apenas profissional — foi humana. Num país em que muitas vítimas gritam sem serem ouvidas, ele foi ouvido atento, olhar vigilante e reação imediata. Foi presença. Foi coragem. Sua ação salvou uma mulher da morte e nos lembrou que, diante da violência, a neutralidade é cúmplice.
É hora de valorizar esses profissionais que cuidam, protegem e fazem a diferença silenciosa todos os dias. E, mais do que isso, é urgente que o Brasil cuide de suas mulheres com a mesma rapidez com que esse porteiro cuidou de Juliana. Porque nenhuma câmera impede a tragédia sozinha — é preciso que alguém esteja olhando. E que se importe.

Por Fabiano Polayna (MTB: 48.458/SP); Foto: Reprodução de Vídeo