Sempre há lugar para os veteranos na varrição
Alguns começaram muito cedo, outros nem tanto, mas é comum ver pessoas mais velhas varrendo as ruas de São Paulo. São os veteranos da varrição, que provam que não há limites de idade no mercado de trabalho da Limpeza Urbana.
A baiana de Feira de Santana, Cremilda Bispo Santos, tem 55 anos, 30 deles na categoria. Perdeu as contas das empresas em que trabalhou: Cavo, Marquise, Delta, Ivolu e Inova. Diariamente, acorda às 4 horas da manhã e retorna à Vargem Grande Paulista, onde mora, às sete da noite! “O meu serviço é essencial e tudo o que tenho foi varrendo as ruas”, enfatiza.
José dos Santos Filho migrou do Piauí para fazer a vida na capital paulista. Aos 48 anos, varre as ruas da cidade há 21. Conta que foi escolhido: “Estava desempregado e um conhecido me chamou para trabalhar, mas quando cheguei à empresa havia mais de 80 desempregados na fila. Assim que o guarda abriu o portão todos correram para dentro e eu fiquei quietinho, com mais duas pessoas, do lado de fora. Fui o primeiro a ser chamado, junto com um parceiro que trabalhou comigo há 17 anos. A indicação foi só a dica, pois ele se submeteu aos testes como um candidato qualquer”.
Cremilda e José têm três filhos cada e se orgulham em dizer que conquistaram a casa própria graças à Limpeza Urbana. “Até faculdade eu paguei para a minha filha”, disse ela. E fez isso sozinha, viúva que é. “Tudo, tudo, tudo o que eu tenho é graças à varrição”, acrescentando que em três décadas de trabalho nunca pegou um atestado sequer.
Ele lembra-se de quando surpreendeu a esposa ao comprar o terreno onde mora com a família, à vista. “Durante um ano e sete meses eu guardei dinheiro numa bolsa velha, atrás de uma porta. Um dia cheguei na casa onde morava de favor e tinham invadido para roubar, mas não levaram a bolsa velha… No dia seguinte, soube que um vizinho queria vender um terreno. Faltava um pouco, mas o filho do dono disse para o pai vender para mim, pois eu estava precisando… Minha mulher ficou brava, disse que eu escondi o dinheiro, mas foi por uma boa causa e depois ela entendeu. Comprei o terreno e construí uma casa de seis cômodos!”.
“A rua, para mim, é a minha segunda casa, onde fiz muitas amizades e até os mendigos me respeitam”, diz Cremilda, enquanto José enfatiza: “Somos os zeladores da nossa São Paulo”.
Juntos, os dois têm muitas histórias para contar, já ajudaram muita gente nas ruas e sabem muito bem o valor que têm. “Quem faz o lixo são as pessoas, não eu”, disse ele, enquanto ela resumiu:“Só não dá valor a gente quem não pensa.”