Secretaria da Juventude – A sociedade também é responsável pelos atos do governo, afirma o jovem trabalhador Claudemir
Claudemir Pereira Azevedo tem apenas 28 anos, mas trabalha, pensa e age como um homem maduro, ciente de suas responsabilidades pessoais, profissionais e civis. Bueirista há um ano e meio, ele começou na Limpeza Urbana há quase cinco, como ajudante de serviços diversos.
Há cinco meses ele conheceu o sindicato de perto, ao participar da primeira roda de conversa promovida pela Secretaria da Juventude. “Como eu integro o grupo de jovens e sou diácono na minha Igreja (Assembleia de Deus, Ministério do Brás) aceitei o convite para conhecer o trabalho”, contou. Em julho passado ele esteve no segundo encontro e espera ansioso a continuidade da ação sindical.
Tudo começou com o convite pelo Siemaco, repassado pelo coordenador da garagem M’Boi Mirim: Alexandre. “Ele me indicou para participar do evento”,. Na segunda vez foi ele quem indicou os colegas.
“O projeto da Secretaria da Juventude do Siemaco soma à perspectiva do trabalho evangélico, realizado na Igreja. Trabalhamos contra as coisas erradas e oferecemos oportunidades aos jovens que na sua maioria, hoje, estão perdidos.”, disse lembrando que foi muito bem recebido no sindicato, onde sentiu-se “aconchegado e feliz”.
Lá, ele descobriu um pouco mais sobre a história do Brasil e o trabalho sindical. Gostou, sobretudo, da participação do secretario da juventude do Espírito Santo, Gutemberg Evangelista Guedes, que orientou o grupo a “abrirem as suas mentes para a política”. Também quando a diretora responsável pelo trabalho, Daniela Sousa, afirmou: podem contar comigo!
Durante o segundo encontro, a consciência política, então despertada, foi aguçada, assim como a vontade pessoal de crescer. “Eu não culpo o governo por tudo, mas a sociedade. Afinal, o Estado gira em torno da sociedade.”
Citando o próprio trabalho e as toneladas de lixo depositados nas ruas pela população, ele salienta: não é a prefeitura que joga tudo na rua, somos nós! Nós, da Limpeza Urbana limpamos, a prefeitura fiscaliza, mas a população não respeita.
Sobre políticos, ele lembra que somos nós quem os elegemos. “Toda ação gera uma reação. A culpa é nossa”, disse taxativo. Salientou, ainda, o problema de desinformação política e pricipalmente da venda de votos. “Quem vende o seu voto elege um político mau-caráter e sabe disso, porque ele comprou algo que não se vende, pois é contra a lei. É a sociedade que corrompe por se deixar corromper.”
Planos ousados
Por problemas familiares, Claudemir parou de estudar na sexta-série e só pode concluir o ensino fundamental há dois anos. Motivado pela Secretaria da Juventude, ele matriculou-se no curso de educação continuada oferecido pela Central de Cursos do Siemaco e agora pretende concluir o ensino médio. A meta é ousada> Ele pretende cursar três faculdades: história, teologia e psicologia.
“Eu quero estudar mas não viso benefícios individuais. Eu quero montar uma Ong (organização não governamental) para ajudar jovens e adultos a terem novas chances na vida. Criar condições para que isso aconteça”, explicou salientando que está gostando muito da dinâmica das aulas. “Como a sala tem alunos de séries diferentes, um ajuda o outro a aprender e rever dúvidas”, pontuou.
História de gente grande
A vida não foi fácil para Claudemir, mas ele apanhou, reagiu e reconstruiu a sua dignidade. Órfão de mãe aos oito anos, ele fugiu de casa aos 11, depois que o pai, então alcoólatra, bateu em sua cara. Hoje o pai mora com ele e é para as netas aquilo que não pode ser para os filhos…
“Longe de casa, sem ter uma casa, morei de favor na casa de parentes, amigos, conhecidos. Comecei a trabalhar cedo, mas também me envolvi com coisas erradas muito cedo”, confidenciou.
A namorada de adolescente o fez descobrir o amor, a Igreja e a perdoar o pai. “Meu pai perdeu tudo para o álcool. Tive medo de um dia não o reconhecer, pois ele poderia parar na rua… O levamos para morar com a gente e agora planejamos comprar uma casa maior para dar conforto a ele.”
O jovem bueirista aprendeu com a vida dura que viveu, quando adolescente, mas garante que não tem mágoa. “Eu liberei o perdão!”
Um jovem pai de família
Casado com Elaine, que conheceu aos 13 anos, ele é pai de Inês, 6, e Izabel, 1 ano e meio. Sócio do sindicato desde que entrou para a Limpeza Urbana, Claudemir, curiosamente, já integrava às categorias representadas pelo Siemaco mesmo sem saber. “Eu trabalhei como porteiro, mas não conhecia o sindicato”. Hoje, a esposa atua como controladora de acesso. “Conheci o Siemaco na Soma mas na realidade descobri o trabalho realizado durante a roda de conversa”,
As surpresas dos bueiros
No bueiro cabe tudo o que a água leva e o que as pessoas descartam. Por isso, sempre é uma aventura –e risco- exercer a função. Claudemir trabalha em equipe: seis bueiristas e o motorista. Diariamente, o grupo locado no Alojamento do Campo Limpo abre cerca de 70 tampas, que pesam entre 40 e 50 quilos cada. A tarefa é feita em revezamento, quatro dias ele levanta a tampa, dois coleta o resíduo e deposita no caminhão.
“Tem de tudo no bueiro. Eu não vi, mas colegas meus já retiraram uma perna humana, que foi amputada”, contou. Celulares, lixo de todo tipo e até fezes são recolhidos. O lado bom é que de vez em quando aparece dinheiro. “Geralmente fazemos uma vaquinha para comprar algo para comer. Ou quando o colega que está no bueiro precisa de dinheiro, ele paga um refrigerante para nós e fica com o resto”, contou divertido.
Com fé, bom humor, muita vontade de aprender e um coração do tamanho do mundo, o bueirista, jovem que é, está realizando no presente o futuro que pretende viver. Conte com a Secretaria da Juventude do Siemaco para realizar todos os seus planos, Claudemir!