No futebol de Várzea as torcidas rivais torcem, celebram juntas e praticam o verdadeiro fairplay
O clássico paulista aconteceria na Alianz Park quando os times do Palmeiras e do São Paulo se enfrentariam num duelo de (quase) morte, com torcida única. Mais distante dalí, também na capital paulista, na comunidade de Taipas, toda a atenção estava voltada para o time favorito, R6 Inquebráveis, que disputaria a bicampeonato com o Alvina FC, vindo do vizinho Jaraguá, na presença de todas as torcidas reunidas.
Pelo menos três mil pessoas foram prestigiar a 2ª Copa Siemaco CDC Taipas provando que o DNA do brasileiro confirma a paixão do povo: o futebol. Com a torcida local empurrando o time, o R6 venceu a final por 2x1e ergueu a taça mais uma vez.
Na partida preliminar, depois de quase furar a rede ao marcar sete gols, o Pantanal sagrou-se em terceiro lugar ao vencer o Meia Noite, que marcou dois. “Venceram os times mais preparados fisicamente e taticamente”, repetiram os especialistas, diretores dos times que competiram durante meses. Aos vencidos restou repetir o velho discurso: ficamos entre os quatro melhores…
Força e talento da comunidade
Vinte equipes que reunem cerca de 400 atletas mantêm a estrutura do Centro Desportivo Comunitário de Taipas, contribuindo com a mensalidade que garante a manutenção da estrutura local e o lazer para toda a comunidade. Cerca de três mil pessoas prestigiaram a final, de mães com bebês de colo a idosos.
O presidente Beto (Gilberto) assumiu os trabalhos no CDC há dois anos e se esmera para somar ações sociais às esportivas. Da escolinha de futebol para meninos até 16 anos, que incrivelmente têm como treinador um Profissional com Deficiência Visual, à distribuição de cestas básicas para famílias carentes. Tudo muito organizado.
“Não tenho palavras para agradecer o apoio do amigo Elmo Nicácio (o diretor do Siemaco, Lagoa). Ele é o nosso maior incentivador e, principalmente, uma pessoa da comunidade!”, fez questão de ressaltar o presidente.
Vaidade que enfeita o campo
Com média etária de 25 anos, o time do R6 Inquebráveis não se destaca apenas por ser bom de bola, mas pela aparência. Antes de entrarem em campo eles se preparam com esmero, vaidosos que são. O cabelo chama a atenção, mas o cuidado com a beleza aparece nos detalhes: asseio, trato na pele e vestimentas, incluindo bijuterias e tatuagens.
Os números 5 (Johny), 8 (Danilo), 11 (Douglas) dividem o pequeno espelho no vestiário e conferem o visual na tela do celular. “Temos de sair bem na foto”, justificam garantindo que o primeiro a entrar e ultimo a deixar o vestiário é Digão (José Rodrigo dos Santos), que sagrou-se como o goleiro menos vazado levando apenas dois gols em todo o campeonato.
Ele provou que beleza também “põe a mesa”, afinal o R7 Inquebrantáveis venceu a 2a Copa Siemaco CDC Taipas invicto. “A nossa força é a amizade que nos une”, afirmou o craque das redes.
Longe da bola mas dentro do campo e dos corações
Morador do bairro de Taipas, Lagoa tornou-se querido por todos pela sua amizade e apoio. “Ele é meu amigo”, faziam questão de enfatizar muitos dentre os torcedores e jogadores. Os presidentes e diretores dos times ressaltaram o papel fundamental que o sindicalista na promoção do lazer e cultura do bairro e do Siemaco como apoiador das ações.
“Nosso time é de fé e a comunidade é tudo”, disse o presidente do Mamados do Morro (time do coração do Lagoa), Alessandro de Oliveira Santos. “Aqui somos uma família!”, afirmou.
Luis Carlos Vidigal, da diretoria do ParaTodos, disse que a presença do sindicalista é importante não apenas dentro como fora do Centro Desportivo Comunitário. “Na periferia, a amizade é o maior legado”, contando que já são 13 anos de amizade”, destacou.
Para o presidente do Arsenal, Serginho, Lagoa “deu uma virada no bairro”. Morador do Jardim Brasília, ele convive muito proximamente com os Taipianos e testemunhou com alegria as melhorias no CDC. Entre elas a “grama” sintética, reforma dos banheiros, bar e extensão do espaço para o público.
Lagoa adiantou que o objetivo dos jogadores e diretoria é instalar refletores, que viabilizariam partidas noturnas, e também brinquedos infantis e equipamentos de ginástica para a terceira idade, ampliando ainda mais as atividades desenvolvidas. Para ele, as conquistas resultam da união.
“O Lagoa é o cara que nos representa”, endossou o coletor Raimundo. Lateral esquerda do ParaTodos e colaborador da Loga há dois anos, ele atesta que o sindicato, na pessoa do Lagoa, “briga pela categoria”.
Pelo menos 50 mil pessoas vivem no bairro que, segundo Lagoa, é esquecido pelos políticos logo após as eleições. “As demandas são tantas que eles preferem se afastar para não serem cobrados”, afirma. O futebol, no entanto, aproxima as pessoas. “A várzea é isso.”
Arvão (Marcelo) ressaltou que a várzea une as pessoas da comunidade. Para o presidente do Alvina, Manoel, a várzea é berço de talentos do futebol. Entre eles o craque o time do coração, Gabriel Jesus, ex-palmeirense que brilha hoje no futebol europeu. Ele lamenta apenas que a várzea foi esquecida pelos olheiros e não tem sido levada a sério como deveria, pelos atletas amadores.
Lagoa entende ser natural a aproximação do Siemaco, através das ações do sindicato-cidadão. Afinal, trabalhadores da categoria e seus filhos moram no bairro.
Ele acredita que as ações sindicais do presente faz a diferença na vida de todos, hoje. No futuro, ajudará a fortalecer ainda mais a imagem dos sindicatos através das novas gerações de trabalhadores.
“Cada criança que está aqui sabe do apoio do Siemaco à comunidade. Quando eles forem para o mercado de trabalho, um dia, saberão da importância dos sindicatos e o papal dos sindicalistas para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária”, acredita Lagoa.