A arte de cuidar da segurança do trabalhador

 A arte de cuidar da segurança do trabalhador

Aos 18 anos, recém egresso do serviço militar obrigatório, sem experiência ou formação, Lisandro Rosa encontrou na Limpeza Urbana a sua primeira oportunidade de trabalho formal. Foram quase dois anos na profissão, mas o destino por algumas vezes o reaproximou do Siemaco.

Na quarta-feira (14) ele acompanhava o processo seletivo da empresa UNicaCorp, no sindicato. Iria colaborar com a equipe de Recrutamento e Seleção na contratação de novos funcionários para a área de manutenção, que coordena como Técnico de Segurança do Trabalho.

Dos tempos de coletor ele guarda muitas histórias, boas lembranças e os amigos. “Era duro, era pesado, era sujo, era horroroso, mas era bom. A gente vivia rindo atrás do caminhão, não importando o peso da coleta, se fazia sol ou chuva, nós tínhamos de terminar o serviço.”

“Nunca vou me esquecer. Passei pela banca e li no jornal Amarelinho um anúncio que oferecia oportunidades de emprego para ‘homens adultos, com porte atlético e que corressem bem’. Fui à empresa e descobri que era para a coleta de lixo. Na hora fiquei com dúvida, mas aceitei,” recorda Lisandro, 22 anos depois…

De gari a bombeiro civil

Mais uma vez uma banca de jornal mudou o rumo da vida do gari Outro anúncio do Amarelinho oferecia curso de capacitação gratuita para uma função desconhecida: bombeiro civil.

A coleta de lixo gerava uma preocupação latente. Por seu um trabalho braçal não oferecia muitas possibilidades de crescimento. Na verdade, o curso era pago, R$ 200 na época, um preço alto para um gari. “Recortei o anúncio e guardei no bolso do uniforme. Fui trabalhar e quando voltei ao alojamento o anúncio caiu no chão, o que chamou a minha atenção. Fui conferir”, contou.

O curso que era para ser feito em uma semana demorou seis, devido à rotina pesada da coleta de lixo. “Não é fácil trabalhar a noite toda, com tanto esforço físico, e estudar de dia, mas insisti e consegui duas formaçôes: bombeiro civil e balizamento de aeronaves”. Terminado o curso, a surpresa, não havia emprego. A oportunidade, contudo, chegou dois meses depois. Ele pediu demissão. “Foi um sentimento estranho. Eu iria assumir responsabilidades diferentes e teria de me adaptar à uma realidade desconhecida.” 

A recordação mais impactante vivenciada por Lisandro, na época, foi visualizar o uniforme de bombeiro em cima da cama, prestes a ser usado pela primeira vez. “Relutei em acreditar que aquilo era real, por desconhecer a categoria e conhecer apenas os bombeiros militares. Foi quando eu aprendi a cuidar de gente.”

A aproximação com o Siemaco

A preocupação com a formação continuava e Lisandro tornou-se aluno da ETEC, no curso de Técnico de Segurança do Trabalho. Em 2014 ele procurou o Siemaco para colher material para elaborar o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Isso porque o passado de gari ainda era presente em sua vida e o objetivo era contar um ponto da vida dos coletores, com foco na segurança do trabalho, porém com uma visão humana.

Foi aí que ele conheceu o diretor do Siemaco, Elmo Nicácio (Lagoa). Na quarta-feira, os ex-coletores de lixo Lagoa e Lisandro se reencontraram. Foram muitas as histórias para relembrar e compartilhar.

Lisandro agradeceu à acolhida do sindicato e principalmente à ajuda de Lagoa para a elaboração do TCC. “Ele tem uma trajetória emocionante!”. Agora, como Técnico de Segurança do Trabalho numa empresa do segmento do Asseio e Conservação, ele retornou ao sindicato de origem e, mesmo indiretamente,  quer somar na proteção ao trabalhador.

“Eu cuido de pessoas”, resumiu, lembrando que todos deveriam se unir como pessoas. “No trabalho, a vida de pessoas pode estar em jogo, por isso o Técnico de Segurança do Trabalho tem de estar 24 horas ao lado do trabalhador. De perto e de longe ao mesmo tempo, sempre cuidando de gente.”

“Diziam que eu era um dos piores coletores, mas todos queriam trabalhar comigo… Para mim, foi um privilégio trabalhar como gari. Ainda jovem eu convivi com gente humilde, vi pais de família sustentarem as suas famílias com dignidade, mesmo ganhando tão pouco… Gente que trabalha sorrindo atrás do caminhão”, finalizou.