Juventude sindical tem de se preparar para enfrentar desafios novos para lutas históricas
Líderes sindicais, integrantes da Rede UNI de Juventude Brasil, organizaram na sexta-feira (1o de dezembro) a I Oficina da Rede UNI Juventude Brasil. Além de pensar estratégias conjuntas para fortalecer a juventude sindical mundo do trabalho, foram debatidos temas atuais que impactarão o futuro do trabalhador.
A diretora do Siemaco, Daniela Souza, responsável pela Secretaria da Juventude do Siemaco e coordenadora da Rede, no Brasil, presidiu a mesa. Ao lado dela, a vice-presidente da Central de Jovens da Uni Américas, Lucimara Malaquias, e do presidente Neri Marset, que veio do Uruguai especialmente para prestigiar os colegas brasileiros, acompanhado pela sindicalista Florência Suarez.
Representando os trabalhadores do sistema financeiro/transporte de valores, os uruguaios explicaram que o papel dos jovens sindicalista é pensar estratégias para fortalecer as redes locais, aumentar o intercâmbio mundial e atrair o trabalhador mais jovem para o mundo sindical. “A tecnologia é uma realidade, as plataformas digitais avançam, mas temos de nos fortalecer para enfrentar a mudança no mundo laboral buscando novas possiiblidades”, disse Neri.
Os palestrantes, Ricardo Martins e Noemi Araújo Lopes, respectivamente, falaram sobre o emprego do futuro e a ameça à aposentadoria. No final do encontro, que durou seis horas, a certeza de que não há repostas prontas, mas muitos desafios a serem vencidos para fortalecer os sindicatos e garantir as conquistas des gerações de sindicalistas e trabalhadores.
Trabalho ao invés de emprego
Professor de Tecnologia da Informação, Ricardo Martins da Silva, ministrou a palestra O Mundo Digital e os Reflexos para a Juventude no Mercado de Trabalho. Acostumado com a evolução tecnológica, mostrou com naturalidade que há 500 anos o mundo se preocupa com o desenvolvimento tecnológico, incorporado no cotidiano da sociedade desde as imensas máquinas a vapor até o computador de mão. O impacto atual, antecipou, é que o avanço tecnológico limita a criação de novos postos de trabalho, mas é o cenário perfeito para o surgimento de novas profissões.
Explicando, justificou que o avanço da robótica e da Machine Learning, as máquinas já são capazes de realizar as tarefas repetitivas com maior precisão, segurança e economia do que os humanos. É um caminho sem volta. Um processo, entretanto, que deve demorar um pouco mais no Brasil, onde, segundo ele, o empresariado é mais conservador. Característica que manterá o emprego por mais tempo, porém numa indústria nacional menos competitiva.
“Surgirá uma nova classe de trabalhadores”, alertou Ricardo, prevendo que no futuro o serviço substituirá a dinâmica do trabalho. Alertou que, em épocas onde a tecnologia da Big Data (permite o monitoramento total da rotina de todos nós), as pessoas deixarão de ser consumidoras e se tornarão produtos. Sobretudo, que o trabalho liberal prevalescerá e os profissionais irão prestar serviços para várias empresas, sem vínculos empregatícios.
Talvez o maior desafio a ser superado no mundo do trabalho, será acompanhar o avanço tecnológico tem acontecido rápido demais para que os desempregados possam aprender novas funções. Para o professor, os empregos perdidos em consequência das tecnologias não serão recuperados. “O seu emprego não existirá no futuro e 85% das profissões de 2030 ainda não foram inventadas”, argumentou.
Para não perder o bonde da história, Ricardo recomendou que os sindicatos fiquem atentos às tendências e investam na escolaridade e capacitação das categorias representadas. Polemizando, disse que uma das tendências internacionais é manter o consumo através da concessão da renda básica, subsidiada pelos governos ao trabalhadores.
Momento de reação frente às ameças da classe política
A cientista política do Diap (Departamento Intersindical de Apoio Parlamentar), Noemi Araújo Lopes, analisou os Prejuízos e Reflexos da Reforma Trabalhista para a Juventude e Principais Mudanças da Reforma da Previdência. Instigou os jovens sindicalistas à reação, enumerando as perdas anunciadas com a proposta da reforma previdenciária, que se somarão aos prejuízos advindos da Reforma Trabalhista.
Noemi afirmou que os sindicatos têm de manter o protagonismo em defesa dos direitos do trabalhador. Para isso, precisam de planejamento estratégico e, principalmente, somar forças com a socieade civil, influenciando na elaboração de políticas públicas e buscando soluções legais. “Os sindicatos precisam se preparar com argumentos baseados no conhecimento da legislação”, enfatizou.”
Antecipando que a proximidade das eleições deverá barrar o avanço da reforma previdenciária, defendeu a tese de que os sindicatos terão tempo para reação. “O cenário político não é bom para a aprovação das mudanças no sistema previdenciáro. Vamos ganhar tempo para reação”, acredita.
Baseada na tese de que o tema, impopular, será arrastado para depois das eleições, avisou, no entanto, que é preciso cuidado total para que as reformas não sejam aprovadas em doses homeopáticas, parcial e gradativamente. “A reforma na previdência afeta toda a sociedade. É preciso deixar as categorias de lado e negociar em conjunto.”.
Para ela, a representatividade dos sindicatos não deve ser limitada ao mundo do trabalho, mas que o trabalho em defesa da classe trabalhadora deve se estender para a política, de fato, “É preciso aumentar a bancada dos trabalhadores através dos postos políticos.”
“Os sindicatos tem de unir a tradição com a modernidade, se capacitar técnicamente, conquistar a empatia da sociedade e aproximar-se da academia. Principalmente, tornar-se referência através da eficiência”, afirmou categórica.
Finalizando um encontro rico em informações e engajamento, Daniela, Lucimara e o secretario de atas, Weber Matheus, enfatizaram a ação colaborativa que permitiu a realização da I Oficina da Rede UNI Juventude Brasil. Um evento compartilhado em ideias, financiamento, esforços e que gerou reflexões, aprendizado e sobretudo novos objetivos a serem alcançados.